Precisamos escolher as coisas eternas
Para seguir a Cristo, deixe tudo que gera desunião, maldade e rancores
A Palavra de Deus é viva, eficaz (Hb 4, 12). Isto significa que, quando acolhemos a Palavra que se fez carne (Jesus Cristo), devemos ser transformados e renovados por ela. Em outras palavras, a liturgia deste fim de semana quer nos fazer um convite a uma escolha fundamental: as coisas passageiras ou as coisas eternas?
No evangelho de hoje, ao ser questionado por uma pessoa sobre c caminho para a vida eterna, Jesus retoma a lista dos mandamentos. Contudo, apenas conhecer os mandamentos é insuficiente, é preciso praticá-los.
Ele parece ainda mais rígido ao dizer que para a vida eterna é necessário deixar os bens (primeira parte) e a família (segunda parte). Soou algo estranho, sobretudo para a religião judaica, cuja riqueza era vista como sinal de bênção divina. Tanto que a pessoa que perguntou saiu triste porque possuia muitos bens (Mc 10, 22).
Jesus, na verdade, questiona o nosso modo de nos relacionar com as coisas e as pessoas; não, necessariamente, está pedindo que abandonemos tudo e todos. Nesse sentido, há uma frase bastante interessante do filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella que diz: “Sou proprietário do que possuo ou estou sendo possuído pelo que possuo?”.
Também Santo Inácio de Loyola tem um ensinamento bastante profundo sobre esse tipo de discernimento em seus Exercícios Espirituais: “é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e consequentemente em tudo o mais” (EE, 23). Em outras palavras, tanto faz o os bens que temos; a questão é o quanto esses bens nos afastam ou nos distanciam de Deus. A este exercício, Inácio chamou de santa indiferença.
Ora, Jesus não faz diferença de salvação para rico ou para pobre, afinal de contas, “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10, 34). Todavia, ele deixa claro que não há espaço para Deus, que é eterno, no coração de quem é rico apenas de coisas passageiras, isto é, materiais. Trata-se, do apego excessivo. Vejamos, na primeira leitura, a atitude do rei Salomão que, diante de todo ouro e prata do mundo, orou a Deus pedindo sabedoria. De fato, há coisas na vida que o dinheiro não compra, e a sabedoria é uma delas; pois é um dom de Deus. Em nossa vida precisamos ter sempre um correto discernimento para saber o que pedimos a Deus, pois, nem sempre o que pedimos é o que precisamos.
A frase de Jesus: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10, 25) precisa ser compreendida em seu contexto histórico. A agulha era, na verdade, uma pequena porta que havia no muro de Jerusalém, e, para um camelo passar por ela, seria necessário que lhe tirassem todas suas bagagens e ainda assim ele deveria se ajoelhar e ser empurrado. É preciso que nos desapeguemos de bagagens desnecessárias para que sejamos empurrados para a porta eterna, que é Jesus.
Ao utilizar-se dessa expressão Jesus deixa claro que é sim muito difícil uma pessoa apegada a bens e pessoas chegar à vida eterna, porém, que não é impossível, afinal de contas, “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (Mc 10, 27). A exclamação de Pedro é, tantas vezes, a nossa exclamação: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10, 28). Para seguir a Cristo, precisamos sim deixar tudo; tudo o que gera desunião, maldade e rancores. Escolhamos, sempre, as coisas eternas!
Assim seja. Amém!
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