Quais as nossas cegueiras existenciais?
Deus não é propriedade de ninguém!
No evangelho deste 30º Domingo do Tempo Comum (Ano B) percebemos que Jesus continua em movimento, ou seja, ele não fica parado em seu comodismo, mas vai ao encontro daqueles que mais necessitam de luz, de vida, de esperança. O evento narrado é comum nos três evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas). Bartimeu é o símbolo do encontro da humanidade com Deus, isto é, do nosso encontro com o Senhor.
“Jesus saiu de Jericó” (Mc 10,46): São Gregório Magno, sobre este trecho, diz que Jericó traduzido é por “lua”; e na linguagem bíblica a lua indica imperfeição, porque ela tem fases, cresce, diminui, some, aparece... Em outras palavras, Jesus vem ao encontro da nossa imperfeição humana para nos devolver a dignidade de filhos e filhas amados. É justamente esta a mensagem de esperança e alegria trazida pelo profeta Jeremias na primeira leitura (Jr 31,7-9): um Deus tão amoroso que é Pai e, por isso mesmo, cuida de TODOS os seus filhos. Ele não deixará ninguém para trás, nem sequer os cegos, aleijados, mulheres grávidas e parturientes. Deus ama a todos! Nunca nos esqueçamos disso.
“Timeu” em grego significa honra; e “Bar”, significa filho: Bartimeu era o “filho da honra”. Assim, ele era cego porque vivia apenas das honrarias humanas, mas não enxergava a verdadeira honra que é Jesus Cristo; e por isso ele estava à beira do caminho, à margem (Mc 10,46). O centro da sua vida era tudo, menos o Senhor. A pior das cegueiras que nós podemos ter em nossa vida é a cegueira espiritual. Como dizem os antigos: “o pior cego é aquele que não quer ver”. Há tanta gente no mundo que já ouviu falar de Jesus e, no entanto, são poucos são aqueles que se dignam a deixar as honrarias mundanas para seguir o Mestre. E nós, será que ainda estamos cegos para Deus?
O fato é que, ao saber que Jesus passaria, sua única chance era gritar. Acontece que muitos o repreendiam para se calar (Mc 10, 48). Esses “muitos” podem ser tantos irmãos que pelo seu contra-testemunho nos fazem desviar do caminho de santidade como pode ser também nós mesmos que, tantas vezes, estando em situação de pecado, de apegos humanos ou de afetos desordenados, tiramos Jesus do centro de nossa vida e nos colocamos à margem do caminho de fé. Nesse sentido, às vezes, nossos piores inimigos somos nós mesmos, quando tentamos dialogar com as tentações do inimigo.
Bartimeu, além de cego era mendigo, ou seja, tudo o que ele tinha como proteção era o seu manto, que servia para se proteger das intempéries do tempo. E, no entanto, depois do encontro com Jesus de Nazaré, ele deixa o manto para segui-lo. Ora, quando ele decidiu deixar suas seguranças/honrarias meramente humanas e apegar-se ao que era divino, ele foi capaz de enxergar a vida com clareza e lucidez.
O apelo que Jesus faz ao mandar a multidão chamar Bertimeu é o mesmo que devemos ouvir dos nossos irmãos de comunidade. “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” (49). Interessante que a mesma multidão que coloca empecilho para o cego se aproximar de Jesus é provocada pelo Mestre para animar e chamar o mendigo. O nosso dever de cristãos é sempre tornar Jesus mais próximo das pessoas e não o contrário. Nesse sentido, mais do que o próprio Bartimeu, por um momento, aquela multidão estava cega pelo egoísmo de acharem que só eles eram dignos da presença do Senhor.
Lembremos: Deus não é propriedade de ninguém! E por isso mesmo ele pode e faz maravilhas em nossa vida quando o colocamos como centro de nossa vida. É por isso que podemos cantar como o salmista: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. Este é o motivo de nossa alegria: o Senhor nos tira de nossas cegueiras existenciais e espirituais para nos devolver a luz da fé, da esperança e da caridade.
Assim seja!
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